quarta-feira, 3 de junho de 2009

"Melhor é a criança pobre e sábia do que o rei velho e insensato, que não se deixa mais admoestar." (Eclesiastes 4 : 13)



Há alguns meses atrás foi comemorado o sesquicentenário da igreja presbiteriana do Brasil. Se você talvez não saiba o que é sesquicentenário, não se preocupe você raramente precisará usar tal palavra, a não ser que você queira impressionar alguém com um linguajar erudito do século XIX. Isso se for de seu costume querer impressionar as pessoas, seja passando uma imagem de inteligente, poderoso ou rico. Porem não é sobre o uso da palavra sesquicentenário que quero falar, mas sim sobre a comemoração desse “palavrão” que pode ser tanto a palavra “sesquicentenário” como também a palavra “presbiteriana”, que não deixa de ser uma palavra que pouco tem a ver com nosso contexto nacional, me fazendo lembrar de uma criança de uns 8 anos que certa vez tentava ler a placa na frente da congregação que eu pastoreava, dizendo: “igreja prebesteriana...”, o que acaba por talvez fazer mais sentido.


Essa comemoração chegou ao meu conhecimento numa tarde em que eu voltava pra casa, quando surpreendentemente eu me deparei com um Outdoor que dizia: “Igreja Presbiteriana do Brasil, 150 anos evangelizando o Brasil”. Penso eu, que eu já tinha ouvido alguma coisa a respeito disso na igreja, mas nem dei muita bola, afinal de contas na igreja presbiteriana vez ou outra se comemora o aniversário de algum evento histórico. Mas até ai, nunca tinha visto algo nesse sentido que extrapolasse o ambiente presbiteriano ou evangélico. Fiquei embasbacado com a proporção do ridículo de um povo que em sua pouca relevância reivindica importância por ter mais tempo de existência.


Fui pra casa doido pra escrever sobre o assunto, mas deixei passar e continue pensando sobre isso e pensando também se valia à pena registrar algo que me comprometesse. Acabei indo ao culto de comemoração em Goiânia pra ver no quê que ia dar tudo isso, se teria algum novo direcionamento que fosse confrontador e expusesse as chagas da igreja e fizesse todo mundo sair dali abdicando sua idolatria e se rendendo a Cristo em lagrimas de arrependimento. Nada disso, só vi as mesmas bajulações de sempre, os mesmo procedimentos mecânicos, as mesmas verborragias, os mesmos cultos aos antepassados, as mesmas afirmações biblicamente corretas e sem vida dos macacos teologicamente amestrados e adoutorados. Eu tava me sentindo com se tivesse numa reunião da torcida organizada do Corinthians, achando tudo sem o menor sentido, mas tentando respeitar a loucura do fanático. Claro que ali era tudo uma loucura muito comedida de fanáticos lordes.


Eu já posso imaginar que alguns ao lerem isso acharão exageradas as comparações e acidas demais, mas eu já até imagino que os que pensam assim são os próprios presbiterianos e alguns evangélicos que por equiparação vestiram a carapuça. Quem não tem nada haver com o meio evangélico vai olhar, vai dizer primeiro: “presbiteriano? Que isso?” e depois de uma aula de historia, vai falar assim: “nossa! Que bonito, parabéns pra vocês”. E se convidados para tal comemoração por educação e respeito a quem convidou permanecerão ate o fim, sem conseguir parar de pensar no porque aceitou o convite.


O que quero dizer é que as pessoas de fora do meio evangélico não dão a mínima pra essa comemoração bairrista. Elas não tão nem ai e nem querem saber. E isso porque nos escolhemos ser assim, amando mais a nos mesmos. Nos fechando nos nossos maneirismos e criando uma cultura própria, alienígena e sectarista. Chamando tudo o que não é nosso de “coisa do mundo”, coisa impura e apresentando o evangelho, que é vida para o que crê, mas colocando como conseqüência da aceitação do evangelho todo o pacote cultural evangélico; como se o indivíduo recebesse o evangelho de graça, mas tivesse que pagar virando evangélico.

Mas não é a toa que os evangélicos são assim. Essa é a herança histórica tanto comemorada. Nós aprendemos muito bem com os missionários americanos, muito bem intencionados, mas que trouxeram junto com a palavra toda sua concepção do mundo, todas suas expressões, todas suas demandas, enfiando goela abaixo dos nativos uma séria de regras que fazia da evangelização um processo em que a americanização caminhava de mãos dadas. Com esse plano civilizatório, vários colégios foram criados fazendo com que a igreja presbiteriana se tornasse parceira no progresso da modernidade. Desse novo modo de vida industrial e burguês, que carecia de gente capaz de realizar tarefas tecnicistas abria espaço para a possibilidade de industrialização, urbanização e modernização criando potencias consumidores que alimentariam essa economia liberal.


Claro que tudo foi feito na igreja com a melhor das intenções e que muita gente fez tudo isso movido por amor a Cristo, não coloco isso em questão e admiro muito que foi feito pelos primeiros missionários, porém por não perceberem o engano e por não conseguirem ter um olhar desconfiado e distanciado de si mesmos, acabaram por pregar um evangelho etnocêntrico, que pensa o outro a partir de si mesmo e não consegue perceber as diferentes demandas e a beleza do que o evangelho pode fazer no indivíduo, ou na cultura a partir dela mesma. Mais uma vez no Brasil a religião e os religiosos, com sua boa intenção, serviram como instrumentos do império para dominação e exploração.

É interessante que já naquela época havia no Brasil gente que não se conformava com a rigidez das estruturas totalizantes da religião preferindo seguir o fluxo leve da simplicidade do evangelho, que não era leve porque não tinha lutas e dores, mas era leve porque não carregava o peso das obrigações humanas travestidas de piedade, mas possuía o significado e satisfação da vida no viver para o outro, respeitando a cultura e o ser, antes de tudo. Assim foi a vida de Jose Manuel da Conceição, “o padre protestante”, que influenciado pelos protestantes deixou o catolicismo se tornando um evangelista itinerante. Porém de “padre louco” como era chamado acabou se tornando “pastor louco”, por não se enquadrar nos planos da igreja presbiteriana americana. Conceição que rompera com a igreja romana, almejava difundir a mensagem de salvação, sem se preocupar muito em destruir instituições para elevar outras. Ele viajava de cidade em cidade, vila em vila, fazenda em fazenda pelo país, pedindo hospedagem e por vezes prestando serviços como varrer, lavar e etc. Conceição acreditava que o homem por si só era capaz de compreender a palavra comunicada. Seu princípio era o do respeito à “religião do ignorante” como eram taxados pelos missionários estrangeiros. O mandaram para os Estados Unidos para que aprendesse sobre organização e administração da igreja, mas seu método se opunha ao dos estrangeiros, que se preocupavam somente destruir os supersticiosos e idólatras hábitos religiosos encontrados entre o povo brasileiro. Manifestava-se no Brasil, a visão de uma Reforma realmente brasileira, harmonizada com o temperamento e os hábitos do país, mas que cessou com sua morte, apesar de sempre surgirem homens com esse espírito, que se entregam ao evangelho somente, sem acréscimos humanos, mas que caminham, mesmo que de forma marginal, sendo execrados pelas autoridades religiosas instituídas.


Mais uma vez quero enfatizar que foi maravilhosa a vinda dos missionários protestantes e que trouxe libertação e salvação para muitos, mas o enfoque individualista da salvação não firmou nenhum comprometimento com a sociedade. Gerou uma religião alienada e apática, que abraçou o ideal mundano capitalista e individualista e legou para o pós-vir, ou para o outro mundo qualquer expectativa de mudança, atribuindo ao aqui apenas o que diz respeito à devoção particular e ao culto público. Assim por um lado temos o povo, que cultiva sua devoção e cultos se afastando das “coisas do mundo” enquanto espera pela volta de Cristo, tendo com responsabilidade chamar os do mundo pra dentro da igreja; do outro lado temos os teólogos, que em suas escolásticas abstrações a respeito de Deus, se reúnem num universo a parte, pra debater e escrever tratados restritos ao seu próprio reduto. Acumulam títulos e PHD´s em Deus, impressionando uns ao outros e fazendo das reuniões de presbitério a reunião dos grandes homens importantes, que fora dali são só um bando de excrementos sem odor- nem si percebe-, mas que como crianças se digladiam entre os colegas pastores, tendo no ministério bem sucedido(número de membros) a confirmação da aprovação de Deus e no domínio sobre os membros da igreja a constante alimentação do ego através da divinização de si mesmo.


De tudo isso, vejo agora a igreja presbiteriana querendo encontrar seu espaço, seu reconhecimento na sociedade. Tudo por amor a si mesma. Ela vê os evangélicos pentecostais e neo-pentecostais crescendo a cada dia e ela só murchando e começa achar que precisa agir também, precisa também possuir um pedaço desse bolo. Resolveu enfrentar o seu complexo de inferioridade e ta indo à luta. O outdoor pra mim revela tudo isso. Ela quer aparecer e dizer que também está na briga. Engraçado é que alguns dias depois era o R.R. Soares que tava nos outdoor´s se gabando do seu tempo de dominação. E se o problema é o fato da IPB ser só uma instituição e não ter um nome de alguém atrelado a ela, então pra ser menos impessoal e conseguir mais adeptos, ela tenta dar um jeito chamando seus péssimos marketeiros e estabelecendo de forma antinatural e forçada o sem graça do Hernandes Dias Lopes como a figura pública que representará a IPB na mídia.


Com certeza o meio evangélico ta mais pra um circo, com um monte de palhaço. Na verdade ta mais pra um circo dos horrores com um bando de aberrações, e nisso tudo ta a igreja presbiteriana como um tiozinho educado chamando as pessoas pra saírem do circo e irem ao museu.


Assim como eu tenho poucas esperanças de que o movimento histórico evangélico brasileiro retome a simplicidade do evangelho em Cristo, eu também não espero muito de uma mudança na instituição que se denomina presbiterina. Porque por mais que frente às outras igrejas evangélicas a igreja presbiteriana seja inexpressiva em força, ela mostra que tem seguido os mesmos caminhos. Sua agenda, suas estratégias, seus esforços e energia são gastos nas mesmas coisas que ela mesma critica nas outras igrejas com a diferença de permanecer firme na ortodoxia e nos seus pacotes doutrinários, que revelam em sua arrogância teológica uma vaidade que tem como ambição, não só o reconhecimento de sua intelectualidade, mas a espera de um reconhecimento popular e sucesso econômico, que trariam provas irrefutáveis de que são os representantes de Deus na terra, dando a eles condições de ditar as ordens e estabelecer o reinado presbiteriano. Esse era o sonho dos fariseus, esse é o sonho dos cristãos.


Ainda bem que Jesus não é fariseu, nem cristão. Jesus é Deus, Ele É e não pode ser reduzido a um grupo humano. Nenhum gueto pode limitá-lo fazendo dele um boneco vodu que os energiza para se sobressaírem sobre os outros. Portanto eu não tenho mais esperanças de uma conversão da igreja evangélica brasileira, mas eu creio que as portas do inferno não prevalecerão sobre a Igreja, pois esta edificada sobre a rocha, que é Cristo. Igreja essa que até pode se organizar como instituição, mas não sendo edificada sobre a rocha é apenas instituição religiosa levando o nome de Cristo e falando de Cristo, mas não parecendo nada com Cristo e por isso sendo o Anticristo, e inimiga do Evangelho. Eu amo a igreja que sou eu, que é você, que somos nós que cremos na graça e vivemos nela pela fé. Isso não tem relação com lugar, com vestimenta, nem com pacote doutrinário, muito menos filiação política ou religiosa, tem relação com a vida de Cristo e o espírito de vida e amor que brota em você onde quer que você esteja. O Povo que se junta com esse espírito é Igreja e essa é minha esperança, seja dentro da igreja, fora da igreja, no centro de macumba, nas casas, nos bordeis, onde quer que seja, mas que pela graça de Deus o testemunho do amor se expresse e haja paz e assim Deus seja conhecido.

Roberto da Veiga


2 comentários:

Carolina Martins disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
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